November 7, 2019

Nascimento do Manel

Maternidade, Mãe, Filhos

Parece que foi ontem.

Mas ao mesmo tempo, parece que já foi há uma eternidade, têm esta sensação?

Parece que esta vida, esta rotina, tudo isto sempre foi assim... É uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo muito gira que tenho ao fazer estes balanços.

Hoje, dia 21 de Outubro, faz um ano em que nasceu o Manuel:

Foi num lindo dia de "verão" mas em que era inverno, Em Lisboa. Entrei pela manhã mas nasceu pelas Às18h com uns redondos 4kg e 52 cm. Sim, o Manel era um bebé ENORME!

Voltando um pouco mais atrás, o Manel às 36 semanas estava literalmente pronto para nascer.

Lembro-me do espanto da minha médica quando lhe fez o primeiro toque depois do primeiro CTG, ao qual eu respondi:

- Só entra isso de mão?

A Dra. M riu-se e disse-me:

- "Sim! Ele está já aqui!!"

- "Não digo que seja hoje, ou amanhã, mas...."

Fiquei estasiante de alegria! Ele prontíssimo, eu também!

Nesse mesmo dia começaram as contrações a sério, e eu a qualquer momento pronta e de mala no carro para receber o Manuel Maria. Estávamos a postos.

A partir daí comecei a ter todos os dias contrações sérias, mas que ao fim de meia hora/ uma hora, desapareciam, ou seja, nunca me faziam chegar a sair de casa... Sabia que eventualmente tinha que estat a "gemer" bem mais antes de ter que sair de casa.


Dia 20 de Outubro lembro-me de mandar uma mensagem à minha médica que dizia:

- "Não aguento mais. Não consigo andar, parece que tenho uma melancia entre as pernas!"

Foi aí que a Dra. M nos disse para irmos de manhã ter com ela e ver se ficávamos já por lá ou não.

(3 dias antes)

A minha ansiedade era mais que muita, sabia que na manhã seguinte podia vir recambiada para casa, mas queria tanto que ele nascesse.

Mas acabei por ficar... Não pelo andamento da coisa, apesar de estar com muitos dedos de dilatação, mas porque o hospital estava cheio e na verdade queríamos todos que fosse tudo espontâneo em relação ao nascimento do Manuel.


Desolada, começei a vestir-me, e a Dra. M passou por mim, olhou-me para as pernas e disse:

-"Não gosto do aspecto dessas pernas, está assim há muito tempo?"

Eu disse-lhe que sim... Na verdade andava há séculos com pernas de elefante quase, e diz que é perigoso.

Foi aí que a Dra. M foi tentar arranjar forma de eu ficar, mas lembro-me que a equipa ficou contrariada com a minha chegada por estarem com mais 6 grávidas a parir.

Uma enfermeira disse-me quando cheguei ao quarto:

- "Não vai ter quarto onde ficar...."

Eu disse-lhe que me podiam arrumar a um canto que ficava bem!

No fim, fui a última a dar entrada no hospital, mas das primeiras a correr para o bloco...


Então cheguei até ao meu primeiro quarto, provisório, onde iria fazer o trabalho de parto, fiquei inicialmente fascinada com o aspecto hoteleiro do quarto e com as condições.

Deram-me também aquelas coisas para ir à wc e vestir aquele lindo traje. Acho que foi aí que comecei a aterrar....


Deitei-me com a certeza que tão cedo não me ia voltar a levantar, estava um mundo para acabar de acontecer, mas, inesperadamente também, estava num relaxe e numa boa descontração que acho que nunca mais se vai voltar a repetir, acho que era da inconsciência do que aí vinha. (lol)

(estava tão bem disposta que andei a mandar esta selfie para uma amiga)

Vieram-me perguntar se queria beber alguma coisa, e imagine-se, haviam várias hipóteses!

Escolhi compal maçã.

O Manel marido entretanto chegou com a mala que tinha ido buscar ao carro, pouco mais tarde a minha mãe e por ali estivemos. Acho também que foi desde então, a última vez que devorei 5 resvistas cor de rosa de enfiada.....


A coisa não tardou mais... Vieram-me dar a pastilhinha de indução, e a partir daí foi tudo a abrir!

Então quando me ligaram ao soro, ui! Disparou seriamente o assunto.

Comecei então a ter umas contrações, que OMG, ainda hoje não sei definir a escala da dor...

Demorei a queixar.me e a chamar alguém... e por isso a anestesista também demorou, muito... Eu já estava para lá de a suar du buço, das virilhas, das axilas, de todos os poros, e a libertar uns tantos de "ais"... "uis"...


Mas ei-la! Apareceu!

Lembro-me também que levei a primeira (de tantas) descomposturas. Diz que me queixei tarde demais e NÃO PODIA SER!

Thanks team!!

Ou seja, voltando à epidural, quando me dizem para me dobrar e não me poder mexer e quase que nem respirar, eu achei que era de gozo, pensei:

- "COMO ASSIM?????"

Como é que eu não me podia mexer, como? Já estava completamente para lá de bagdá!

Mas vá... A anestesia foi dada, e de facto, que bicho de 7 cabeças fazem da epidural, credo! Não é nada assim tão grave! (Thanks God!)

Passados poucos minutos aquilo começou a fazer efeito e UFA, magia tinha acabado de acontecer. De repente uma pessoa que estava pronta para ir para a cova, fica nova!

Haha, mas queria eu que aquela sensação durasse, não foi?

Nam... Ficámos por ali mais uns tempos em conversas os 3 (eu, marido, minha mãe) até que eis quando eu recomeço a sentir aquelas contrações surriais e assustadoras, mas era suposto?

Até certa parte sim, mas depois de darem outra dosagem eu comecei ficar pior e pior... eu sentia aquilo a descer-me pelas costas, mas na verdade não estava a fazer efeito, e esta foi a fase em que as contrações já eram feias, mesmo.

Chamei pelo menos mais 3 vezes as enfermeiras, e fui repicada mais 3 vezes, tudo na mesma, dores inacreditáveis... Até que vieram dar a dose do parto. Nada...


Sim, começei a desesperar.

Estava a começar a ter as contrações de expulsão a seco, não se soube explicar, mas a epidural não me fez efeito...

A equipa começou-se a descontrolar, e eu, que por sua vez, já estava em sofrimento também me descontrolei seriamente.

Entretanto no meio destas dores todas, entraram pelo menos mais 3 enfermeiras diferentes (porque o hospital estava cheio e o pessoal estava doido) e cada uma delas me fez toques que eu voei até á lua, gritei tanto, chorei tanto, agarrei-lhes os braços e em desespero pedi POR FAVOR, outro não. Mais descomposturas sem grande compaixão.


Aqui foi a parte (ainda no quarto) que comecei a gritar alto, muito alto....

Pensei que NUNCA na minha vida ia fazer estas cenas embaraçosas que só se vêm nos filmes. A cara da minha Mãe e do Manuel marido eram qualquer coisa.

Apareceu a Dra. M (finalmente) mais a Dra. anestesista, mais a enfermeira (primeira) que me estava a acompanhar e a dada altura sumiu.

Aquele quarto estava um caos.

Lembro-me de estarem todas muito alarmadas a falarem umas com as outras, e aí decidiram-me levar para a sala de partos.

Here we go!

Lembro-me de ir a agarrar alguém, de lágrimas nos olhos, desesperada e dizer:

- "Dra. M, mais disto não, por favor, mais não... Não aguento mais."

Dizia isto a cada contração que aparecia.

Achei mesmo que não ia aguentar.

Foram horas que não quero nunca mais.


Cheguei ao bloco e entre sussurros, a Dra. anestesista me diz e pergunta:

- "Não sei o que se passa, mas a epidural não está a fazer efeito. (Sim eu por acaso já sabia). Posso fazer-lhe tudo de novo?"


- CLARO QUE SIMMMMMMMM!!!


Voltei a pensar que tinha que fazer outra vez aquela aula de pilatos, com uma barriga indecente de grande e acalmar-me, no meio de tanta esteria para ser picada again. Consegui.

Resultou.

Depois de tudo isto foi deitar-me para trás, ver o meu marido chegar, respirar fundo, fazer muita força e aqui vamos nós....

Lembro também, passados uns minutos, se o bebe estava tão à porta, porque estava aquilo a demorar tanto tempo!?

Elas faziam-me uma festa a cada empurrao de força que eu fazia para expulsar o Manelinho, mas ele nada.... e nada... e nada.... Mas eu estava a fazer bem a coisa!! (yai!)


Eis quando no meio de alguma tensão.... e de me esmagarem a barriga tanto mas tanto, que fiquei 1 mês dorida como se tivesse levado uma sova, Dra. M foi buscar uma ventosa.

O Manel já estava à muito tempo ali para a frente e para trás, e daí a tensão. Ventosa agarrada e a dra. M começou a puxar.

Lembro-me que fiquei absurdamente espantada com a força que a médica fez a puxar pela cabeça dele, achei que coitado do meu filho não ia sair dali nada bem... Eis quando, coitada da minha Dra. M, deu quase 3 cambalhotas para trás... aquilo partiu.

Volta a pôr tudo outra vez, puxa puxa puxa puxa e voilá:


NASCEU!


Depois de conseguir entrar em pânico por não o ouvir chorar, ele lá chorou, uuuuufaaaa.... respirei de alívio, só queria ouvir choro.

Senti de repente, quando não estava à espera, um PESO INACREDITÁVEL em cima da minha barriga.

Era o Manuel!!

Na altura fiquei num misto inacreditável de sensações:


Vontade de chorar com vontade de rir, com muito medo, com espanto, com sem saber o que fazer.


Tinha as pernas dele viradas para mim e eu fiquei ali, a tentar espreitar boca aberta a tentar perceber tudo aquilo que estava a acontecer.

Foi um instante até o tirarem de cima de mim, o Manuel foi para dentro e eu deixei de o ver.

Guardo a maior tristeza deste mundo cada vez que me lembro desta parte.

Sempre esperei por tê-lo ao colo, e o coração aperta-me tanto, porque não mo deram para os braços. Não tive o meu bebe ao colo.

Sonhei 9 meses de luta, por aquele momento, por poder abraçar, consolar, agarrar o meu bebe, e de repente estou ali, a sentir-me só, feita num caco, a ser cozida, e sem bebe nos braços...

Foram lavá-lo a correr porque ele tinha que ir para a incubadora, por causa deste aparato todo ao nascer... Imagine-se 4 kg de gente numa incubadora.

Passaram-me com ele ao lado da cama, onde eu ainda estava a ser manobrada e torturada e disseram-me:

- "Vá, um beijinho à Mãe porque tem que ir para a incubadora."

Tremi.

Só tive tempo de puxar o meu braço, e fazer, isto que hoje partilho convosco, e que agradeço do fundo do meu coração ao meu marido por ter tido a presença de estar ali forte a assistir a tudo, e de ter tirado neste momento o seu telefone e registar a fotografia que eu guardo com maior amor e preciosidade.

Vejo-a e revejo-a vezes sem conta. Sempre a quis partilhar, mas ao mesmo tempo tinha medo.

Mas hoje como partilho este testemunho, também vos mostro o que para mim foi um momento tão marcante:


Lembro-me de fechar os olhos, puxei o meu braço para tocar nele, era a pele mais suave, mais divina que alguma vez senti.


(muitaaaaaa bom!!!!)


O resto da história tem um desfecho infeliz, se esta parte já parece meia louca, foi tudo louco mas normal... coisas que fazem parte e que fizeram a nossa história... a parte seguinte é que foi triste, e totalmente evitável.

Se quiserem muito muito eu ganho coragem e escrevo, mas no fundo mete bexigas em ruptura, útero de baixo das maminhas, médicas e enfermeiras a tratarem-me tão mal, pontos infectados, e enfim... talvez não seja muito necessário, focamo-nos na parte boa que é 1 ano maravilhoso de vida com este piolho que fez de nós FAMÍLIA.

Família que eu agradeço tanto a Deus.

:)

E apesar de não me terem dado o Manuel para os braços quando nasceu, desde então não mais o larguei, e dos meus braços ele não sai! Mesmo quando acordo todos os dias com dores horríveis de costas destes 10KG e meio que já tem!! Heheh

Espero que tenham gostado deste bocadinho, se sim, digam-mo e deixem um comentário.

Até breve e obrigada,


Mu